Li o livro Feminilidade Radical: Fé Feminina em um Mundo Feminista durante a quaresma. A escolha dessa leitura se deve ao meu desejo de me dedicar mais a leitura de obras relacionados ao cristianismo (sou cristã). E resolvi começar logo com um livro que pode ser considerado polêmico, afinal ele aborda o feminismo do ponto de vista do cristianismo.
A autora, Carolyn McCulley, que se converteu ao cristianismo aos 30 anos, compartilha um pouco do seu conhecimento sobre o feminismo, adquirido com base em suas leituras e estudos da época na qual ela se considerava feminista, e resolveu escrever um livro que, segundo a autora, “gostaria que alguém tivesse me dado no meu aniversário de trinta anos.”
Preciso dizer que uma das coisas que mais gostei desse livro foi o jeito cuidadoso e respeitoso que Carolyn abordou os assuntos polêmicos. Vivemos em tempos tão loucos que parece impossível discordar de alguém sem rebaixar essa pessoa e usar as piores palavras possíveis, ao invés de simplesmente rebater os argumentos. Eu mesma perco a cabeça às vezes.
Por isso, admiro pessoas como Carolyn, que conseguem expressar sua opinião, deixar bem claro a sua crítica, mesmo que sobre um assunto que gera tanto debate, sem se rebaixar, sem usar o senso comum ou estigmatizar as pessoas.
Dito isso, vamos aos pontos que mais me chamaram a atenção e que sinalizam por que você, especialmente a mulher cristã, deveria se dedicar a essa leitura também.
1- As três ondas do feminismo
Não irei descrever essas ondas aqui, até porque o foco do livro nem é esse. Apenas farei algumas observações a respeito do que Carolyn apresenta em seu livro.
Em um primeiro momento, a autora te mostra que, na verdade, a maioria das mulheres não tem noção do que é o feminismo, seus aspectos negativos e positivos. Por isso, a sequência de temas abordados nessa obra segue a cronologia das três ondas do feminismo, suas principais autoras e os principais impactos na sociedade.
Você percebe, por exemplo, que a primeira onda feminista foi extremamente importante para o reconhecimento da mulher enquanto alguém que também deve ter direitos civis e constitucionais respeitados, e não ser tratada como um mero objeto de seu marido.
Para você ter uma ideia, antigamente a mulher não tinha direito de ter uma propriedade em seu nome. Imagine as consequências disso…
Com o passar dos anos, obviamente as pautas foram se modificando. Questões relacionadas ao papel da mulher na sociedade e na família começaram a ser questionados. Outras pautas relacionadas, por exemplo, a sexualidade, ao aborto, a pornografia e a própria feminilidade da mulher também entraram em debate.
Com relação a toda história do feminismo abordado, o que mais gostei de saber foi a existência de várias outras autoras feministas, um pouco de suas obras e de se suas vidas pessoais.
Falo isso porque me parece que a autora feminista mais conhecida é a Simone de Beauvouir, famosa por obras como O Segundo Sexo. Mas existem outras autores que também são bastante influentes no feminismo como vemos hoje, tais como Elizateth Cady Stanton e Betty Friedan.
E é interessante notar que todas elas também tiveram suas próprias polêmicas em suas vidas pessoais, muitas com problemas familiares, de relacionamento, que certamente influenciaram na consolidação do seu legado feminista, na luta contra o chamado patriarcado, na luta contra o que se entende como feminino e masculino, na luta pela legalização do aborto e até na luta contra o que prega o cristianismo. (E eu estou generalizando aqui, ok? Cada autora tem suas pautas e questionamentos).
Além disso, ainda é possível entender um pouco do motivo pelo qual o movimento feminista é muito mais alinhado a pautas consideradas progressistas, com o qual está mais atrelado até hoje.
2-O problema é o homem?
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É claro que toda a discussão sobre o que trata cada uma das autoras feministas abordadas também envolve o que a bíblia nos mostra sobre o assunto. Aqui é importante ressaltar que, para muitas feministas, o problema da mulher é o homem e a opressão do sistema patriarcal, que tolhe a mulher de suas oportunidades, seus direitos, sua liberdade e sua qualidade de vida.
Porém, do ponto de vista bíblico, o problema da mulher, ou do homem, é o pecado. Ambos, homens e mulheres, são pecadores, tem problemas de comportamento e defeitos.
"O pecado é a razão por que os homens têm oprimido as mulheres, e as mulheres têm usurpado os homens. O pecado é a razão para a inveja, o sentimento faccioso, a confusão e toda espécie de coisas ruins que caracterizam a falsa sabedoria. O pecado é a razão por que precisamos de um Salvador."
Mas isso justifica a violência doméstica, a brutalidade ou a violência sexual cometida por muitos homens? DE FORMA ALGUMA. É importante reforçar que esse tipo de homem, mesmo que se declare cristão, não representa o caráter de Cristo e não tem noção, ou ignora, o papel dele como homem, dentro da narrativa cristã. Veja só o que o Apóstolo Paulo escreveu para os homens:
"Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela (...) Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao PRÓPRIO CORPO. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne, antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a Igreja." (Efésios 5:25-29)
Ainda sobre a violência cometida por muitos homens, Carolyn cita um texto do teólogo Wayne Grudem muito interessante:
"Onde quer que os homens sejam vistos como sendo melhores que as mulheres, onde quer que os esposos ajam como 'ditatores' egoístas, onde quer que as pessoas trabalho fora de casa, ou de voltar, ou de ter propriedades, ou de receber educadação, onde quer que as mulheres sejam tratadas como inferiores, onde quer que ahja abuso ou violência contra as mulheres, estupro, infanticídio feminino, poligamia ou hárens, a verdade da igualdade à imagem de Deus está sendo negada."
Da mesma forma, pautar suas atitudes sob a justificativa de que “os homens fazem isso, então eu também vou fazer”, mesmo que não seja algo bom, não parece muito coerente e com certeza não tem nada a ver com os princípios bíblicos. Assim como um erro não justifica o outro, o pecado do seu semelhante não deveria ser utilizado como justificativa do seu próprio pecado.
Além disso, é importante lembrar que, mesmo se a sociedade fosse formada apenas por mulheres, o que é impossível, ainda sim teríamos problemas sociais e comportamentais.
O ser humano é problemático gente! Por que você acha que existem tantos livros e autores que tentam entender o comportamento humano? Porque nós somos complexos e não é plausível julgar alguém com base apenas no seu sexo. Você sabe muito bem disso e certamente já aprendeu, ou está aprendendo, que é muito mais importante prestar atenção nas atitudes e no caráter das pessoas, do que em sua condição física e fisiológica.
"Como um movimento, o feminismo surgiu porque pecados foram cometidos contra as mulheres. Penso que esse é um argumento justo. Mas o feminismo também surgiu porque as mulheres pecaram em resposta. Esse é um problema humano clássico: pecadores tendem a pecar em resposta a pecados cometidos contra eles."
3- Sobre submissão
E é claro que um dos assuntos mais polêmicos relacionados ao papel da mulher dentro do relacionamento não deixaria de ser abordado em Feminilidade Radical.
Do ponto de vista cristão, a mulher tem o papel de auxiliadora dentro do relacionamento, e não de liderança. Ela tem a função extremamente importante de ajudar seu parceiro a liderar bem a sua família.
Mas calma, não precisa ter um ataque de raiva depois de ler isso. Respira.
Aqui entram perguntas importantíssimas para entender essa tal de submissão.
- O homem é melhor ou mais importante do que a mulher? Não, para Deus ambos tem o mesmo valor, apenas exercem papéis diferentes e COMPLEMENTARES dentro da família e, às vezes, dentro da sociedade, em função das diferenças fisiológicas e comportamentais entre ambos.
- Ser submissa significa aceitar tudo? Não mesmo. Quem deve ocupar o primeiro lugar da sua vida é Deus, não o seu marido. O presente mais precioso que Deus te deu foi a sua vida, por isso é seu dever zelar pela sua integridade física e mental. Nada justifica o abuso físico e emocional.
- E o que significa ser submissa então? Significa complementar seu parceiro em suas faltas, assim como ele te complementa. Significa apoiar e ajudar no crescimento e amadurecimento da sua família. Significa escutar o que o homem diz enquanto líder da casa, tendo a sabedoria para interferir no que for preciso para o bem de todos. (E eu sei que na teoria isso tudo é lindo, mas na prática é difícil mesmo, para ambos.)
- IMPORTANTE. É claro que hoje ainda temos que lidar com o problema de uma geração de homens que não querem assumir responsabilidade com nada, principalmente com relacionamentos (por exemplo, quantas histórias você já ouviu falar de pais que nem pagam a pensão dos filhos?) ou agir com o mínimo de respeito e princípios para com a sua família. Desse tipo de gente você deve fugir. Com certeza esse não é o tipo de homem com o qual você deve formar uma família. Não é sobre esse tipo de homem que a Bíblia fala (bem).
Isso foi apenas uma amostra do livro
Em Feminilidade Radical, Carolyn discute outros temas importantes acerca do contraste entre feminismo e cristianismo. Aqui abordei apenas alguns aspectos que considero importantes.
Porém, especialmente para você, mulher cristã, é necessária a leitura completa dessa obra para entender todos os pontos levantados pela autora e conhecer um pouco mais sobre esse movimento e o seu contraste com a visão cristã.
Por fim, preciso dizer que esse livro foi, para mim, um passo inicial em busca de outras leituras sobre o tema. (Inclusive, aceito sugestões).
Se você já leu ou já ouviu falar sobre essa leitura, por favor deixe seu opinião nos comentários sobre esse livro. Ficarei feliz em saber sua opinião.