A Dama do Cachorrinho, de Anton Tchékhov

Estou decidida a ler mais autores russos. Pensando nisso, e lembrando daquela lista com 10 sugestões de livros para ler na quarentena, nesse mês resolvi me dedicar a leitura de A Dama do Cachorrinho (e outras histórias), do Anton Tchékhov.

Fiquei interessada nessa leitura porque essa é a primeira obra que leio desse autor, que depois eu descobri que é o mesmo que escreveu A Ilha de Sacalina, um livro que eu quero muito ler. Além disso, essa também é a minha primeira leitura de contos (Pois é… Mas sempre é tempo de começar).

Outros motivos que me levaram a escolher esse livro foram as suas avaliações positivas, além dos elogios a construção psicológica dos personagens, aspecto que muito me interessa na literatura russa, então não pude resistir a essa leitura.

Agora que você já sabe porque escolhi essa leitura, vamos falar sobre o livro.

O Livro

A Dama do Cachorrinho por [Anton Tchekhov, Maria Aparecida Botelho Pereira Soares]

Esse é um livro curto. Li a edição vendida pela LP&M Pocket, com apenas 126 páginas, que passam “voando”, porque a leitura é bem fácil e as histórias te prendem do começo ao fim.

É importante dizer também que essa edição que eu li apresenta um prefácio muito interessante, escrito pela Maria Aparecida Botelho Pereira Soares, a tradutora desse e de outros clássicos russos, que conta um pouco da vida e da obra de Tchékhov. Foi através desse texto que eu descobri que o autor é considerado um “mestre dos contos”.

Com relação a sua organização, esse livro contém doze contos curtos, sendo o mais conhecido intitulado de A Dama do Cachorrinho, daí vem o nome do livro. A maioria deles trata, de alguma forma, sobre relacionamentos, incluindo várias traições.

Outra curiosidade sobre os contos desse livro é que você vai se deparar com muitos personagens médicos. Acredito que isso seja reflexo da vida do próprio autor. Tchékhov também era médico.

Não vou comentar sobre todos eles, mas vou fazer alguns comentários sobre os contos que eu mais gostei.

A cantora

Nesse conto você vai conhecer a história de Pacha, cantora e amante de Nicolai Petróvitch Kolpakov. O problema é que a esposa de Kolpakov descobre o caso do marido e vai até a casa de Pacha para tentar encontrá-lo.

O que me chamou atenção nesse conto foi tanto o desespero e a reação da esposa diante da situação, quanto o cinismo, a falsidade e a dissimulação de Pacha para esconder o caso. Ela nega tudo até o fim.

A esposa chega a pedir dinheiro para Pacha, para conseguir pagar as contas e sustentar os filhos, já que Kolpakov não cumpria com suas obrigações. É uma história triste, mas achei as reações dos personagens bastante reais, por isso gostei tanto dela.

Iônytch

Nesse conto você vai conhecer a história do médico Dmítri Iônytch, que se apaixona por Iekaterina Ivânovna, a quem chamava de “Gatinha”, uma jovem de 18 anos “esbelta e bonita”.

Mas a paixão não é correspondida. Na verdade Iekaterina “brinca” com os sentimentos de Iônytch após descobri que ele era seu admirador. Para você ter uma ideia, Iônytch pede a moça em casamento, mas ela o rejeita porque preferiu ir estudar fora e tentar a carreira como artista.

O problema nessa história é que, depois da rejeição e da decepção, Iônytch se tornou um homem frio e amargo. Sua vida se tornou tediosa e nada o interessava. Na verdade, ele permitiu que esse episódio frustrante roubasse sua esperança por outras experiências positivas em sua vida.

Daí eu te pergunto: Quantas vezes nós não fazemos a mesma coisa? Quantas vezes deixamos que as decepções atrapalhem os nossos relacionamentos e até nossa postura diante da vida?

Iônytch é mais comum do que nós imaginanos.

A irriquieta

Esse foi o meu conto preferido. Ele conta a história entre Olga Ivânovna, uma entusiasta da arte e rodeada de amigos como ela, e Ossip Stepânytch Dýmov, um médico simples e dedicado.

Dýmov fazia tudo por Olga, mas essa estava deslumbrada mesmo era pelo mundo artístico, com poemas, peças, cantores, e pela busca pela fama e por uma vida fora do comum.

Num certo momento, Olga começa um caso com Riabóvski, um pintor amador. A relação entre eles é tão forte e instável que Olga nem a esconde do marido mais. Ela não se importa em ter seu caso descoberto e Dýmov, acovardado ou sem saber o que fazer, simplesmente não consegue reagir.

Até que Dýmov contrai difteria, fica gravemente doente e morre em função dessa doença. E foi somente acompanhando o avanço da doença do marido que Olga descobriu que Dýmov era um jovem cientista, com um futuro promissor pela frente. Quer dizer, ela não conhecia o próprio marido.

A ironia da situação é que Olga, que sempre buscou se aproximar de pessoas de alguma forma excepcionais, simplesmente não conseguiu enxergar que o próprio marido, o qual ela ignorava, era o mais importante dentre todas essas pessoas que ela já havia conhecido. Mas ela descobri isso tarde demais.

Com certeza essa é uma história que te convida a não ser tão auto-centrado e valorizar as pessoas que estão na sua vida. Talvez o que você mais procura já está do seu lado.

A Dama do Cachorrinho

Por fim, vamos falar sobre o conto que deu nome a esse livro. Em A Dama do Cachorrinho, você conhece a história do relacionamento amoroso entre Dmítri Dmítritch Gúrov e Anna Serguêievna. O problema é que ambos são casados, ou seja, trata-se de um relacionamento extraconjugal, traição mesmo.

E essa não foi a primeira vez que Dmítri traiu a esposa, na verdade ele já havia feito isso várias vezes antes. Inclusive ele desenvolveu uma visão muito negativa e depreciativa das mulheres em função desses casos. Ele chega a chamar as mulheres de “raça inferior”. Tenho a impressão que seu desprezo é tanto fruto do machismo, quanto uma forma de sublimar a sua própria culpa por viver um caso extraconjugal.

Mas eis que um dia surge Anna, a Dama do cachorrinho, porque sempre passeava com o seu cachorro, um lulu da Pomerânia branco. Vale dizer que essa era a primeira vez que Anna traia o marido.

E o que era para ser apenas mais um caso de “amor”, acabou se transformando numa grande paixão, a ponto de Dmitrí ir procurá-la em sua cidade natal, porque ele não conseguia esquecê-la.

Admito que esse não foi um dos meus contos preferidos. Estou comentando porque é por causa dele que o livro tem esse título. Não gosto de histórias de amor que envolvam traição. Para mim, ambos os personagens são egoístas e covardes por seguirem com esse caso, apesar das possíveis consequências que isso poderia gerar para suas famílias. Não é honesto, entende…

Ao mesmo tempo, entendo que o autor também mostra, através desse conto, que esse tipo de relacionamento existe e que é difícil para ser mantido ou digerido por todos os envolvidos. As pessoas são complexas, os relacionamentos são complexos e nem tudo é tão simples quanto parece, especialmente quando se trata de relacionamentos no século XIX.

A Dama do Cachorrinho, de Anton Tchékhov

Amei minha experiência com contos!

Gostei muito da experiência de ler esses contos e espero investir mais nesse estilo de narrativa em breve, até para conhecer mais contos. Porém, admito que leria facilmente a continuação de todas essas histórias escritas por Tchékhov, e fiquei pensando como seria um livro com cada um desses contos como romances mesmo. Ele realmente é um excelente contista.

Curiosa, apaixonada por livros e completamente consciente de que ainda tem muito a aprender. Aqui, compartilho um pouco desse universo!
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5 comentários em “A Dama do Cachorrinho, de Anton Tchékhov

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