Nesse mês de novembro me dediquei à leitura do livro maravilhoso do John Steinbeck chamado As vinhas da ira.
Esse livro é simplesmente TRANSFORMADOR. É impossível não ser tocado pela história e pela garra da família Joad.
Confesso que não conhecia muito sobre o autor, nem sobre a ideia geral da história. A única coisa que sabia é que esse livro está na lista de recomendações do Jordan Peterson, um psicanalista canadense cujo trabalho eu acompanho.
Além disso, também fiquei animada para ler As vinhas da Ira ao ver os comentários dos leitores na página da Amazon, que são muito positivos.
Fiquei tão impactada que resolvi registrar aqui minhas percepções de leitura.
Mas antes de começar a falar da história do livro propriamente dita, aqui vai uma pequena contextualização histórica, muito necessária para o entendimento do livro.
O contexto histórico do livro
As vinhas da ira foi publicado em 1939, pouco tempo depois da quebra da bolsa de 1929, que causou a chamada Grande Depressão.
A Grande Depressão, que durou aproximadamente até 1933, com consequências posteriores, foi um período extremamente difícil para os americanos. Muitos empresários perderam tudo, o número de desempregados aumentou e outros tantos cometeram suicídio.
Junte esse acontecimento à grande expansão agrícola e industrial que ocorreu nos anos 1920, acompanhada de mudanças nos meios de produção e de trabalho.
O cenário trágico resultante foi um período de recessão e de transformações sociais profundas, que culminou num quadro de dificuldades econômicas para boa parte da população.
Movidas por essas dificuldades, muitas famílias que trabalhavam na lavoura perderam tudo e se tornaram migrantes em busca de trabalho pelo país.
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O autor, John Steinbeck, escreveu vários artigos sobre esses migrantes naquela época, cuja situação ele acompanhou de perto, e que, posteriormente, acabaram servindo como base para a criação desse livro.
Ou seja, mais do que um romance, As vinhas da ira também é, em certa medida, uma denúncia politíca e social do que acontecia com essas pessoas. Esse livro revelou o sofrimento desses migrantes no auge da dissipação da política capitalista americana.
Em função do seu trabalho, Steinbeck foi acusado de ser comunista e seu livro foi até proibido em alguns estados americanos. Veja só que absurdo!
Mas o que tem de tão ruim nesse livro a ponto de ser proibido em alguns estados? Agora vamos à história.
As vinhas da ira (Contém Spoilers)
O livro se inicia com a saída de Tom Joad da prisão, que está voltando para casa para encontrar a família. Ao chegar na propriedade dos Joad, acompanhado por um conhecido que encontrou no meio do caminho, o ex-pastor Casy, ele descobre que a família tinha ido embora.
A família Joad, produtores rurais no estado de Oklahoma, em função da impossibilidade de pagar suas dívidas junto ao banco, acabou perdendo suas terras e teve que se mudar.
Ao ler essa parte do livro, você percebe que não é só uma questão de não ter dinheiro para as dívidas, mas parece que os bancos realmente querem que esses pequenos produtores saiam de suas terras para que eles as cultivem utilizando máquinas, que são mais rápidas e lucrativas.
Além disso, vale lembrar que nessa época ocorreram várias tempestades de areia naquela região, fazendo com que muitos produtores perdessem todo o plantio.
Quando Tom e Casy encontram a família, na propriedade do tio John, ele descobre que todos estão se preparando para ir embora para a Califórnia. Eles venderam tudo para comprar um caminhão e juntar uns poucos pertences para fazer essa longa viagem.
Mas por que ir para a Califórnia? Porque eles receberam um panfleto no qual estava escrito que haviam 800 vagas de emprego para trabalhar nesse estado e que lá havia muita fartura.
Em função dessa promessa, toda a família de Tom (o pai, a mãe, o avô, a avó, Tio John, seus cinco irmãos, incluindo Rosa de Sharon, que estava grávida, e seu marido Connan, além do seu amigo Casy), se espremeram dentro do caminhão em direção à terra prometida.
Mas eles não foram os únicos a perderem suas terras e se dirigirem a Califórnia. Muitas outras famílias, inclusive em outras áreas do país e que enfrentavam os mesmos problemas financeiros, também receberam a notícia.
Ao longo da história você percebe que a distribuição desse tipo de panfleto é uma estratégia dos fazendeiros para atrair o maior número de pessoas possíveis e, consequentemente, pagar mais barato pela mão de obra.
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Em alguns momentos existe o relato de pessoas trabalhando na colheita em troca de um pedaço de pão!
Nesse cenário, a família Joad acaba enfrentando muitos problemas. Na verdade, em todo o trajeto e mesmo após chegar à Califórnia, eles enfrentam a fome, problemas com o carro, a desintegração da família e a decepção com uma terra prometida que nunca existiu.
Assim, durante toda a história você acompanha uma série de tentativas frustradas dessa família em busca de trabalho e condições de vida dignas.
Minha experiência como leitora
Você percebe que o Steinbeck não passa a mão na cabeça do leitor com essa história. Ele quer mostrar a realidade mesmo, o sofrimento, e ao mesmo tempo, a garra daquele povo.
Para fazer isso, e contextualizar bem a história, o autor intercala capítulos sobre a família Joad, com capítulos que contém uma visão geral do que estava acontecendo. E isso foi essencial para entender a situação.
E mesmo sendo uma história que retrata tanto sofrimento, a leitura não é difícil. Me sentia como se estivesse assistindo uma novela, de tão fluida é a escrita e a construção dos personagens, dos diálogos e dos cenários.
Porém, apesar de ser uma trama envolvente, ela não deixa de ser impactante. Um verdadeiro choque de realidade para o leitor.
O pior é imaginar que muitas famílias realmente viveram assim, talvez até em situações piores, e que ainda hoje muita gente vive em condições desumanas semelhantes.
É impossível ler esse livro e não olhar para o lado, tentar enxergar o seu próximo e agradecer por ter a vida que você tem hoje, mesmo com todos os problemas.
A senhora Joad
Tive que fazer um texto especialmente dedicado à personagem mais impactante desse livro. A matriarca Senhora Joad, a mãe da família, cujo nome não é citado, e que é a personagem mais forte e emblemática que eu já encontrei nos livros.
Uma mulher forte, agregadora, corajosa, que conduz a família, que tem esperança de que tudo vai melhorar, que cuida de todos ali presentes, que não desiste de lutar mesmo quando as pessoas vão embora e que faz de tudo para fazer com que a família permaneça unida.
Essa personagem me tocou porque vi muito da minha mãe nela. Talvez o objetivo seja esse mesmo. Retratar as mães batalhadoras que lutam e que atuam como um verdadeiro alicerce da família.
Impactos da obra
As vinhas da ira ganhou o National Book Award e o prêmio Pulitzer. Além disso, Steinbeck recebeu o Nobel de Literatura em 1962 pelo conjunto de sua obra (ele também escreveu outros livros), com destaque para As vinhas da ira.
Além disso, o livro ganhou uma versão cinematográfica em 1940, sob direção de John Ford e tendo como personagem principal Henry Fonda. Ainda não assisti o filme, mas com certeza irei assistir.
Atualmente esse livro é considerado um clássico da literatura americana, sendo trabalhado nas escolas e faculdades nos Estados Unidos.
Recomendações
Além de te recomendar a leitura desse livro, também deixo aqui alguns materiais que podem te ajudar a entender a contextualização histórica e a importância dessa obra.
- Resenha do Canal Relivrando.
- Resenha da Lu Cirqueira, do Nuvem Literária.
- Resenha do Guilherme, do Bons Livros para Ler.
- The Grapes of Wrath: 10 surprising facts about John Steinbeck’s novel.
- The Grapes of Wrath – Encyclopedia Britannica
Conclusão
Para mim, a leitura desse livro é essencial para entender um pouco daquele período histórico e para entender mais sobre a natureza e as necessidades humanas.
Suspeito que As vinhas da ira se tornará um dos livros mais importantes da minha vida.
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3 comentários em “Eu li o maravilhoso “As vinhas da Ira””