Quando comecei a escrever esse texto, pensei em utilizar uma frase que simbolizasse o livro no título. O problema é que resumir A morte de Ivan Ilitch em uma frase é, para mim, impossível, tamanha foi a impressão que essa obra me deixou.
A morte nos força a enxergar as coisas de uma perspectiva diferente, e é por isso que a história de Ivan Ilitch é tão impactante. Ela nos força a olhar para o passado e a refletir sobre nossas escolhas no presente.
Ela nos força a repensar sobre nossas hipocrisias, sobre tudo aquilo que fazemos apenas para sermos aceitos socialmente, sobre nossos relacionamentos deteriorados e sobre tudo aquilo que deveríamos fazer diante desse cenário, mas não fazemos.
Para te falar a verdade, acredito que essa novela de Leon Tolstói, que foi publicada pela primeira vez em 1886, nunca deixará de ser atual, exatamente por nos fazer pensar em tudo isso que disse anteriormente. E o autor, esse grande autor, nos leva a refletir da melhor maneira possível: através de uma história.
O que o sofrimento e a morte de Ivan Ilitch é capaz de nos revelar?
"A história da vida de Ivan Ilitch foi das mais simples, das mais comuns e portanto das mais terríveis."
O livro já começa nos mostrando como os colegas de trabalho de Ivan Ilitch recebem a notícia de sua morte. Ele já estava doente há muito tempo, mas ao invés de verdadeiramente se entristecerem com sua morte, eles pensavam mesmo era em quem ocuparia o cargo do finado.
Ou seja, por que se importar com o colega de trabalho, não é mesmo? “Eu quero saber é do aumento que eu posso conseguir, dos benefícios do seu cargo.” São atitudes tão frias e egoístas, que nos mostram que essa história realmente poderia ser real.
O mais interessante é notar que Ivan Ilitch não era uma pessoa ruim. Pelo contrário, ele era um homem aparentemente exemplar.
Não tinha problemas com ninguém, gostava de usufruir dos pequenos prazeres da vida, estudou muito e conseguiu alcançar um cargo importante como magistrado em São Petersbugo, capital da Rússia. Casou-se com Praskovya Fiodorovna e teve dois filhos.
Ele seguiu todos os protocolos, seguiu a receita a risca para ser um homem feliz.
O problema é que vida de Ivan Ilitch era exatamente isso, feita de aparências. Apesar dele ser um exímio profissional, que buscava tratar a todos igualmente, em casa as coisas não iam bem.
Sua mulher, claramente desequilibrada e ciumenta, provocava muitas brigas, e Ivan, em função dessas brigas, que o deixava bastante aborrecido, decidiu se afastar da vida familiar e se entregar de corpo e alma ao trabalho. Quer dizer, ele preferia trabalhar do que estar com sua mulher, o que também o afastou dos filhos.
É importante ressaltar aqui que Ivan gostava de manter as aparências. Ele não era inocente. Ele gastava mais do que ganhava, inclusive se mudou para São Petersburgo também em função do salário e do reconhecimento social, e organizava vários jantares para pessoas socialmente importantes. Ou seja, ele também contribuía para a encenação da própria vida.
Foi somente diante de um problema de saúde incompreensível, resultado de um acidente doméstico, que ele percebeu que sua vida toda parecia uma grande mentira. Ele começou a sentir dores, procurou vários médicos, e seu sofrimento não era aliviado. As dores só aumentaram. Ele perdeu peso, começou a definhar fisicamente, tomava cada vez mais remédios, mas nada aliviava sua dor.
Porém, pior do que tudo isso, era perceber o descaso dos seus próprios familiares e dos profissionais de saúde que o atendiam, na forma como eles lidavam com sua situação. Eles fingiam que nada estava acontecendo, a ponto de Ivan Ilitch simplesmente parar de relatar o quanto estava sofrendo.
Ou seja, além do sofrimento físico, ele também lidava com o sofrimento psicológico. Ele se via como um peso na vida das pessoas e não foram poucas as vezes que ele desejou a morte, tanto pela dor, como pelo descaso. Ele estava sozinho. Nem seus filhos pareciam se importavam com ele, especialmente sua filha mais velha.
E foi no meio dessa dor que ele nos contou sua história e tentou identificar tudo aquilo que deveria ter sido diferente. Fica evidente que o Ivan do início da história é muito diferente daquele do final, muito mais consciente do mundo egoísta que criou para si e dos próprios problemas.
Sua carreira, sua família de faz de conta, seus desejos medíocres, tudo isso vem a tona e ele toma consciência da sua solidão e finitude.
Ele morre aos 45 anos de idade. Sim, Ivan Ilitch não teve nenhuma chance de mudar sua vida. Ele chega ao fim consciente de que tudo poderia ter sido diferente, mas ele não tem mais tempo. Na vida real, são poucas as vezes que temos segundas chances, não é?
O que me consola é que no fim, já à beira da morte, ele encontra o significado, ele encontra redenção e descobre que não estava tão sozinho como pensava.
Melhor do que livro de auto-ajuda
Acredite em mim quando digo que esse livro é melhor do que muito livro de auto-ajuda. Você vai sofrer com o personagem e vai aprender com ele. Vai rever a própria vida, enquanto acompanha o desenrolar do sofrimento de Ivan Ilitch, junto com todos os conflitos que o cercam.
Essa história poderia ser real. Na verdade, ouso afirmar que ela já deve ter acontecido várias vezes, com diversas pessoas diferentes. E é por isso, por sua realidade travestida de novela russa, que todos deveriam ler.
Para comprar esse livro clique aqui.
Transparência: Eu participo do programa de afiliados da Amazon. Por isso, ao adquirir o livro utilizando o link disponível nessa postagem, você me ajuda a manter meu trabalho aqui na internet. Muito obrigada!
5 comentários em “A morte de Ivan Ilitch”