Por que não gostei do livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo?

Demorei, mas finalmente tomei coragem para comentar sobre o livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo. Fiquei a publicação deste texto porque, para mim, é mais fácil comentar sobre o que eu gosto do que sobre aquilo que não me agrada.

Como você pode perceber no título, esse livro não me conquistou. E fico triste em escrever isso, porque sei que muita gente ama essa história. Por isso, diante de tantas resenhas positivas, também pensei que fosse amar essa história.

Porém, infelizmente, para mim não deu.

Mas antes de contar os meus motivos para chegar a essa conclusão, vamos a um pequeno resumo desse livro.

Breve resumo do livro “O Cortiço”

Publicado em 1890 e considerado um clássico da literatura brasileira, “O Cortiço” te leva ao subúrbio carioca em meados do século XIX.

Nesse local e espaço, o leitor conhece como era a vida dos moradores de um cortiço, suas condições de trabalho, suas histórias de vida e como todas elas se entrelaçam.

Apesar de parte da história ter como foco a trajetória de ascensão social de João Romão, um português que faz de tudo para crescer seu patrimônio.

Ele se tornou proprietário de um comércio, de uma taverna e de uma pedreira, mas é casado com Bertoleza, uma ex-escrava que fugiu do seu “dono”.

No entanto, desde o início a união entre os dois foi por puro interesse, pelo menos da parte de João Romão, que cresceu seu império com o dinheiro de Bertoleza e depois a descartou, porque estar casado com uma negra não faria bem para seu status social.

Além desse relacionamento, você ainda se depara com as histórias dos portugueses Jerônimo e sua esposa Piedade, além de Rita Baiana e seu amante Capoeira Firmino. Encantado com Rita Baiana, Jerônimo larga a mulher, a filha e até suas crenças e seu trabalho para ficar com ela.

E não é só isso. Você ainda se depara com a história de Pombinha, Botelho e outros personagens que dão vida ao cortiço.

No fim das contas, você percebe que o próprio cortiço é o grande protagonista do livro, já que são as mudanças estruturais do local e na vida de seus moradores que chamam a atenção no decorrer da leitura.

Mas por que não gostei de “O Cortiço”?

Cena do filme "O Cortiço", baseado no livro de Aluísio de Azevedo.
Foto: Cena do filme “O Cortiço”, baseado no livro de Aluísio de Azevedo e lançado em 1978.

Veja bem, eu li o livro sem saber muito sobre a história. Depois da leitura, como sempre faço, assisti alguns vídeos e li textos de análise sobre essa obra.

Conclusão: fiquei chocada porque as pessoas fazem vista grossa para alguns aspectos do texto que, para mim, são ridículos (essa é a palavra mesmo, RIDÍCULOS!”

E aqui estão os meus 3 motivos para chegar a essa conclusão.

1- Portugueses são melhores do que brasileiros?

Entendo que “O cortiço” é um romance naturalista, por isso me incomodou muito a diferença na representação entre portugueses e brasileiros. Os portugueses são sempre representados como pessoas melhores, mais íntegras e trabalhadoras.

No entanto, essas pessoas de “moral elevada”, acabam se “desviando” após ter contato com os brasileiros, que são preguiçosos, malandros e só querem saber de festa.

Está achando que eu estou mentindo? Então leia o livro novamente e veja como a diferença dos valores entre os personagens é grande!

2- Ninguém presta

A maioria dos personagens dessa história desenvolve problemas com vícios ou mostra sua falta de caráter ao longo do livro. E qual é o problema disso? Aqui entra uma questão pessoal: eu não gosto de histórias assim.

Parece que ninguém presta, quase todos têm uma índole duvidoso, um comportamento suspeito ou atitudes estranhas.

Como pode uma comunidade inteira ser assim? Daí você associa isso ao caráter dos personagens portugueses no livro, que se perdem ao ter contato com os brasileiros, e tira suas próprias conclusões.

Acredito que a melhor personagem é a Bertoleza, completamente explorada pelo João Romão – aliás, a história dela é a mais triste e revoltante de todas. Se você já leu a história até o fim, então entende o que está falando.

3- Estupro da Pombinha. Isso mesmo que você leu. E-S-T-U-P-R-O!

Para falar a verdade, o trecho em si que descreve a relação sexual (não consentida) entre Pompinha e a prostituta Léonie, não me chocou tanto. Infelizmente, isso ainda acontece muito na realidade. E se engana quem pensa que apenas homens cometem crime como esses. Eles são a maioria, mas não os únicos.

Na verdade, a romantização que muita gente parece fazer dessa parte me deixou bastante CHOCADA. Não se trata de uma cena de paixão tórrida entre Pombinha e a prostituta Leonie, como dizem alguns comentários sobre a obra, trata-se de um estupro.

Não consigo ver beleza nisso e não dá para acreditar que tem gente fingindo não ver.

Leia esse trecho do estupro e tire suas próprias conclusões. Repito, não é a cena em si que me deixou horrorizada, apesar de que, confesso, não estava preparada para ler sobre estupro.

O que me deixou horrorizada foi a reação das pessoas diante dessa parte do livro, achando lindo uma cena de estupro. Pelo visto, são dois pesos e duas medidas. É isso que não entra na minha cabeça.

E estou reforçando tanto essa parte porque não vejo quase ninguém falando sobre isso. Enfim, é triste.

O que eu gostei nesse livro?

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Foto/reprodução: @projeto.overflow

Apesar dos problemas acima, os pontos positivos dessa obra também merecem destaque. O principal deles é que, apesar de ser de 1890, esse livro tem uma linguagem bem acessível. Ou seja, é uma obra clássica, mas é fácil de ler.

Além disso, o ritmo da narrativa é muito envolvente, não dá vontade de pausar a leitura.

Diante disso, apesar de não ter conquistado meu coração, acredito que a leitura é válida. Afinal, é um livro clássico e acredito que é importante investir nessa leitura para conhecer as produções brasileiras.

Por esses motivos, recomendo que você leia esse livro e tire suas próprias conclusões sobre a história. Lembrando que você pode ler obter esse e-book gratuito na Amazon.

E se você já leu esse livro, me conta o que você achou da leitura nos comentários!

Curiosa, apaixonada por livros e completamente consciente de que ainda tem muito a aprender. Aqui, compartilho um pouco desse universo!
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2 comentários em “Por que não gostei do livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo?

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