Resenha: Estrelas além do tempo, Margot Lee Shetterly

Sei que estou meio (muito) atrasada para comentar sobre esse livro, mas como ontem foi dia da consciência negra, lembrei dessa história aqui. E aqui estamos. Bem, “Estrelas além do tempo” me surpreendeu em muitos aspectos. 

Primeiro por ser uma espécie de documentário, um trabalho de levantamento histórico muito bem feito, revelando a importância do trabalho das matemáticas negras na história da Nasa. 

Todos os eventos narrados coincidem com o fim da segunda guerra e o período da Guerra Fria, épocas que muito me interessam.

Nessa época, a criação de tecnologia militar e, posteriormente, a corrida espacial levou o governo americano a expandir as instalações e investimentos da NASA, permitindo a contratação de mulheres negras para trabalharem em suas instalações. 

A IDEIA DE QUE MULHERES NEGRAS FORAM RECRUTADAS PARA TRABALHAR COMO MATEMÁTICAS NA INSTALAÇÃO DA NASA NO SUL, DURANTE OS DIAS DE SEGREGAÇÃO DESAFIA NOSSAS EXPECTATIVAS E MUITO DO QUE PENSAMOS SOBRE HISTÓRIA AMERICANA.

Citação marcante do livro Estrelas além do Tempo.

E não estamos falando de qualquer trabalho, estamos falando de matemáticas. Naquela época, os computadores e calculadoras não eram tão avançados, então elas precisavam fazer todos os cálculos à mão (o que eu acho incrível!).

Nesse contexto, conhecer as vidas das protagonistas foi muito interessante, ainda mais da forma como a autora conta todos os fatos. Nem parece que é um livro biográfico.

Mas quem são as personagens principais do livro?

Leia também: Por que não gostei do livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo?

As protagonistas inspiradoras de “Estrelas além do tempo”

Embora a autora comente a situação dos negros em geral, ela foca nas histórias reais de 3 mulheres: Dorothy Vaughan, primeira supervisora negra na NASA; Mary Jackson, primeira engenheira negra da Nasa; e Katherine Johnson, matemática que participou do projeto que levou o homem ao espaço.

Fotos reais das protagonistas de “Estrelas Além do Tempo”: Katherine Johnson, Mary Jackson e Dorothy Vaughan, cientistas da NASA
Da esquerda para a direita: Katherine Johnson, Mary Jackson e Dorothy Vaughan. Composição via Marie Claire Brasil. Imagens via arquivos da NASA. Todos os direitos reservados.

O resgate histórico do que essas mulheres passaram, dos desafios que enfrentaram para estarem lá e serem ouvidas, é inspirador e, ao mesmo tempo, revoltante. 

Pelo que é relatado, a impressão que eu tive foi que, naquela época, parecia que os Estados Unidos viviam uma espécie de Apartheid não declarado. Eu já sabia que a segregação era grande, mas não imaginava que a divisão de brancos e negros era tão profunda. 

Eu nunca tinha pensado, por exemplo, porque filmes de guerra nunca mostram americanos negros em combate. Não é que eles não iam para guerra. Eles iam, mas trabalhavam em funções “inferiores”, como no maquinário dos navios, por exemplo.

POR QUE UMA NAÇÃO DE PELE ESCURA OU MARROM APOSTARIA SEU FUTURO NO MODELO AMERICANO DE DEMOCRACIA QUANDO DENTRO DAS PRÓPRIAS FRONTEIRAS OS ESTADOS UNIDOS IMPUNHAM DISCRIMINAÇÃO E SELVAGERIA CONTRA AS PESSOAS QUE SE PARECIAM COM ELES?

Frase marcante do livro Estrelas além do Tempo.

A visão americana da guerra

Por outro lado, é importante lembrar que o livro mostra a visão da guerra dos americanos. 

As perseguições a progressistas, a forma pejorativa como os americanos chamavam os soviéticos (apelidados de “camponeses atrasados”), a divulgação de filmes que alertavam o perigo de se ter “um vizinho comunista” e a contribuição dos engenheiros para o bombardeio do Japão, por exemplo, se referindo ao lançamento das bombas atômicas, também foram relatados.

OS PROGRESSISTAS DO GRUPO DE PESQUISA DE ESTABILIDADE, INDEPENDENTEMENTE DE SUAS CRENÇAS POLÍTICAS, ESTAVAM SOB RISCO DE SEREM ACUSADOS DE SUBVERSÃO POR ABRAÇAREM IDEIAS “PERIGOSAS” COMO INTEGRAÇÃO SOCIAL, DIREITO CIVIL E IGUALDADE PARA MULHERES.

Citação do livro Estrelas além do Tempo.

Sinceramente, achei tudo isso estranhíssimo. Pelo visto, a guerra fria realmente plantou mentiras e perseguições nos dois lados da história. Realmente, não há lados inocentes numa guerra. Mas isso é assunto para outros posts…

Leia também: Minhas frases preferidas do livro “Flores para Algernon”

Leia esse livro!

Kindle e-book do livro de Margot Lee Shetterly
Foto/reprodução: @projeto.overlflow

Para finalizar, não posso comparar o livro ao filme baseado nessa obra, já que ainda não assisti. Porém, vi comentários afirmando que, como sempre, o livro trás mais detalhes do que o filme, que distorce algumas passagens do texto.

De qualquer forma, recomendo demais a leitura desse livro, especialmente se você gosta de história e assuntos ligados à guerra.

P.S. Li o e-book dessa obra disponibilizado gratuitamente pela HarperCollins durante a pandemia. Porém, você pode adquirir o e-book ou o livro na Amazon ou em outros sites e lojas de livros.

Curiosa, apaixonada por livros e completamente consciente de que ainda tem muito a aprender. Aqui, compartilho um pouco desse universo!
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