Resenha: Imersão: Um romance terapêutico

Você já pensou em participar de algum tipo de evento que promete te levar a uma jornada rumo ao autoconhecimento e processamento de memórias? Após ler Imersão: Um romance terapêutico (Editora Harper Collins, 256 páginas), talvez você fique com vontade.

Escrito pelo médico psiquiatra Diogo Lara, o livro utiliza uma abordagem parecida com aquela utilizada em A coragem de não agradar (Editora Sextante, 272 páginas). Afinal, nos dois casos, os autores utilizam uma história fictícia para explicar conceitos relacionados à psicologia e que podem ajudar o leitor a entender melhor a si mesmo e continuar investindo em autoconhecimento.

No caso de Imersão, a história é um pouco mais complexa, até porque envolve vários personagens. A meu ver, isso deixa tudo mais interessante, já que, aparentemente, cada personagem representa pessoas com problemas e perfis bem diferentes. Acredito que isso deve gerar mais identificação e conexão com o leitor.

Mas antes de compartilhar minha opinião sobre essa leitura, preparei um pequeno resumo (sem spoiler) da sua história.

Imersão e a jornada de Amanda

A protagonista do livro se chama Amanda, uma médica endocrinologista com 36 anos e que está no pior momento da sua vida. Ela acabou de se separar do marido após descobrir sua traição. Durante sua busca por respostas e reconexão consigo mesma, ela decidiu participar de um seminário intensivo num castelo na Escócia!

Ao longo de seis dias, ela e seus companheiros de seminário, são submetidos a uma jornada terapêutica guiada por Mike, um psicólogo brasileiro radicado nos Estados Unidos que aplica técnicas um pouco diferentes para ajudar seus pacientes. Dessa vez, o foco do seminário é trabalhar a autoestima.

A princípio, parece algo bobo, já que autoestima é um termo tão usado hoje em dia que se tornou quase banalizado. Mas, ao longo do texto, você entende que problemas com a autoestima e traumas que afetam esse aspecto da vida, fazem toda a diferença na forma como nos comportamos e pensamos.

No decorrer da história, Mike ajuda os participantes do seminário a entrarem em contato com experiências traumáticas, sentirem esses momentos e processarem as emoções e sensações associadas a elas.

Ao mesmo tempo, você é apresentado a história e as crenças de cada um dos personagens, o que te ajuda a entender por que eles agem como agem e qual o impacto da aplicação prática de técnicas psicológicas nas suas vidas. Na prática, você compreende como essas técnicas funcionam, quais são as suas diferenças em relação a outras metodologias e como você pode utilizá-las na sua vida.

E tudo isso é explicado de um jeito envolvente, que prende o leitor por meio de uma escrita fluida e fácil de entender, com uma história que te deixa realmente interessado em saber o desfecho dos personagens.

A abordagem terapêutica do livro

De certa forma, Diogo Lara parece seguir uma linha de raciocínio parecida com aquelas defendidas por Ichiro Kishimi Fumitake Koga (autores de A coragem de não agradar). Isso porque, aparentemente, ele também acredita que nós não precisamos ficar presos ao passado e nem precisamos carregar o peso dos traumas e dos problemas para o futuro.

Porém, ao contrário dos autores japoneses, Diogo Lara acredita que as pessoas precisam processar os eventos traumáticos para conseguirem seguir em frente. E esse processamento não passa apenas pela mudança de pensamento, mas também pelas emoções e sensações físicas que esses eventos causam no corpo dos pacientes.

Afinal, discussões, brigas, momentos estressantes, entre outros eventos traumáticos, não modificam apenas a estrutura de pensamento, mas também deixam “pegadas” e resquícios no corpo, já que são geralmente acompanhadas de sintomas como falta de ar, dor de cabeça ou no corpo, entre outros problemas.

Para provar esse ponto, todos os personagens da história são submetidos a essas técnicas terapêuticas mais imersivas, como a chamada brainspotting, que o fazem viajar ao passado para sentir essas emoções e processá-las.

Para mim, essa abordagem parece bem interessante. Nunca tinha ouvido falar em processamento de emoções e percebi que a aplicação de algumas das técnicas apresentadas no livro poderia me ajudar a lidar com a ansiedade social que eu tenho hoje.

O aplicativo Cíngulo

Imagem/reprodução: Aplicativos Grátis

Um dado importante que você precisa saber é que esse livro pode ser considerado um material de divulgação e apoio do aplicativo Cíngulo, eleito em 2019 pelo Google como o melhor app do ano para cuidar da saúde mental.

Acredito que se trata de uma espécie de material de divulgação porque ele é citado em vários momentos do texto, quando Mike comenta que os participantes do seminário podem continuar o tratamento aplicado no seminário em sua própria casa, por meio dos recursos desse app.

Aliás, me interessei pelo livro após usar o aplicativo por alguns dias. Não lembro se a experiência foi boa ou não (porque faz muito tempo que usei), mas acredito que tenha sido positiva, já que comprei o livro, né?

Como trabalho na área de marketing de conteúdo, achei uma estratégia muito interessante e bem incomum para a divulgação de um aplicativo terapêutico. Especialmente, porque a história realmente foi bem construída, aborda muitos dados interessantes sobre saúde mental e ainda compartilha conceitos e explicações importantes para quem se interessa por psicologia.

Recomendo a leitura?

Acredito que Imersão: um romance terapêutico é uma leitura interessante para quem, assim como eu, também gosta de livros que nos ajudam a entender mais sobre nós mesmos e aprender mais sobre psicologia. Apesar disso, confesso que fiquei um pouco desconfiada da reação de alguns personagens diante a aplicação das técnicas terapêuticas.

Achei algumas partes meio exageradas, mas isso pode ser reflexo da minha falta de conhecimento no tema ou do fato do autor querer reforçar os efeitos mais extremos para representar a realidade e dar mais emoção à história.

Outra parte que me deixou confusa foi quando o Mike explica que bater nas crianças, desde que seja algo pontual, leve e acompanhado de uma boa explicação, não afeta o desenvolvimento dos pequenos. Nunca estudei esse assunto, nem sou mãe, mas fiquei incomodada com essa afirmação.

Enfim, como você pode ver, o livro traz explicações, histórias, marketing e (a meu ver) até polêmica. Mesmo assim, se você gosta desse tipo de livro, recomendo a leitura!

Curiosa, apaixonada por livros e completamente consciente de que ainda tem muito a aprender. Aqui, compartilho um pouco desse universo!
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