Depois que li Notas do subsolo estou decidida a ler mais obras do Dostoiévski. Navegando pelo catálogo do Kindle Unlimited, me deparei com esse livro chamado O Jogador, do qual nunca tinha ouvido falar, mas que resolvi ler mesmo assim.
O nome completo do livro é O Jogador (do diário de um jovem), porque se trata justamente dos relatos escritos por esse jovem em seu diário e que ele nos conta nesse livro.
A obra foi lançada em 1866, mesmo ano no qual foi lançado Crime e Castigo, outro clássico do autor. Li o e-book disponibilizado pela Editora LP&M Pocket, que possui 132 páginas. Ou seja, trata-se de um livro curto, ótimo para ser lido em poucos dias.
Confesso que demorei a me encontrar e a entender o enredo da história. Achei o início da história meio confuso, porque o leitor é jogado meio dos acontecimentos. leva um certo tempo para você entender quem são os personagens e o que está acontecendo. Mas depois dá tudo certo e a leitura flui de maneira rápida e intensa.
O romance
Através dessa leitura, você conhece a vida do personagem Alexis Ivanovich, que acompanha a comitiva do General numa viagem a Alemanha, sendo preceptor de seus filhos pequenos.
Alexis não parece ser uma pessoa muito estável. Pelo contrário, ele é meio perturbado, dado a ataques de raiva e, às vezes. tem algumas atitudes com o único propósito de provocar os outros.
Ele também é completamente apaixonado por Paulina Alexandrovna, enteada do General. Suas declarações de amor e submissão ocorrem a todo momento e você começa a se questionar onde está a sanidade e o amor próprio desse rapaz, uma vez que Paulina não corresponde a suas investidas e se aproveita da situação.
"Ela sabe, por exemplo, que a amo com loucura; ela me permite até mesmo entretê-la com minha paixão. (...) 'Eu faço tão pouco caso de teus sentimentos, ela parece dizer, que tudo que puderes me dizer, tudo que puderes sentir em relação a mim, me é perfeitamente indiferente.'"
"Vou matá-la simplesmente porque há dias em que tenho vontade de devorá-la."
A parte mais engraçada do livro é quando a vovó da família chega. A terrível e rica Antonina Vassilievna Tarassevitch, com 75 anos, chega sã e salva à cidade na qual a comitiva do general estava hospedada.
O problema é que todos esperavam a sua morte, principalmente o General, em função da herança que receberia e que iria utilizar para se casar com a senhorita Blanche, uma interesseira de marca maior.
Porém, Antonina não só está bem de saúde, como começa a frequentar os cassinos e a jogar. E é acompanhando essa senhora desbocada que Alexis é introduzido ao mundo do jogo, ao qual se vê absolutamente encantado.
"Coisa estranha, ainda não ganhei nada, mas eu ajo, penso como se fosse um homem rico e não posso me ver de outra forma."
O problema é que, uma vez inserido, é necessário muito autocontrole para sair e não jogar fora tudo o que se tem. Mas diante dos acontecimentos e dos desdobramentos da sua vida amorosa, Alexis simplesmente não consegue se controlar.
"Será possível que eu seja apenas uma criança? Será que não compreendo que sou apenas um homem perdido?"
Perceba, portanto, que através dos relatos do seu diário, Alexis conta ao leitor todos os eventos externos e internos (pensamentos, comportamentos) que o levaram aquela situação pós jogatina, bem como os efeitos desse vício em sua vida e na família do General.
Curiosidades sobre o livro
Resolvi elencar algumas curiosidades sobre a vida do autor que são importantes para entendermos um pouco da história desse livro.
- O Jogador foi escrito em apenas 20 dias (fiquei chocada quando descobri), em função de um contrato que Dostoiévski firmou com o seu editor na época. Caso um livro não fosse entregue na data estipulada, o autor perderia os direitos autorais de seus livros por 9 anos. E foi assim que esse livro surgiu. Provavelmente isso influenciou na narrativa rápida dessa história.
- Talvez em função dessa urgência, imagino que Dostoiévski escreveu um personagem que reflete muito sua vida pessoal. O próprio autor era viciado em jogos, o que significa que ele conhece bem as sensações pelas quais um viciado em jogos passa e colocou essa percepção individual no livro.
- Outro aspecto de sua vida pessoal é a paixão do personagem por Paulina. Na verdade, o próprio Dostoiévski havia se apaixonada por uma mulher chamada Paulina Súsvula, considerada sua grande paixão, mas que acabou o traindo. Detalhe: o autor era casado. (Casos de família, né?) Descobrir esse fato me fez entender o motivo pelo qual as declarações de amor do personagem Alexis eram tão fortes e intensas.
Leia esse livro
Apesar de não ser uma obra muito conhecida desse autor, vale a pena se dedicar a essa leitura e encontrar mais uma narrativa interessante criada por Dostoiévski. Fiquei surpresa positivamente com essa leitura!
Apenas ressalto que talvez você também demore para entender o que está acontecendo, mas não desista da leitura por isso, ok? Você não vai se arrepender!
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Um comentário sobre “Resenha: O Jogador, Fiódor Dostoiévski”