Resenha: O peregrino, John Bunyan

De acordo com a sinopse desse livro, “O Peregrino” é o livro mais vendido do mundo depois da bíblia. Não vou mentir. Essa afirmação chamou minha atenção e despertou minha curiosidade para essa leitura.

Mas ele me decepcionou. Pois é…

Contrariando todas as resenhas positivas que vi sobre esse livro, ele não me cativou tanto assim. Talvez minhas expectativas estivessem altas demais, não sei…

De qualquer forma, vou te contar um pouco da história desse livro antes de dar a minha opinião. Assim, talvez você entenda os meus motivos.

O que fala o livro “O peregrino”?

John Bunyan, autor do livro, criou uma ficção, uma alegoria, para representar a jornada que deve ser percorrida por um cristão para que ele consiga entrar na Cidade Celestial, citada e prometida na Bíblia.

Para isso, ele utiliza personagens bem emblemáticos, que representam comportamentos e ações abordadas na história bíblica. O personagem central da história, por exemplo, se chama Cristão.

No início da história, Cristão está sofrendo uma angústia terrível, porque não suporta mais o fardo de seus próprios pecados e a vida que leva na Cidade da Destruição. Por isso, após ser orientado por Evangelista, Cristão decide sair em peregrinação rumo à Cidade Celestial.

No caminho, ele enfrenta vários desafios, que representam os problemas e armadilhas enfrentadas pelos cristãos que também desejam alcançar a salvação descrita no texto bíblico. 

Durante esse percurso, ele encontra vários personagens que atrapalham e tentam tirá-lo do caminho certo, como Legalidade, Hipocrisia, Ignorância e Amor-ao-dinheiro. Por outro lado, Cristão também encontra personagens que o ajudam durante o percurso, como Fiel e Esperançoso.

Não vou dar mais detalhes, para não dar spoilers. Porém, já adianto que se você já leu a bíblia e conhece a história, então já deve imaginar o final de Cristão e sua entrada na Cidade Celestial.

Até aqui, tudo bem. Meu problema com esse livro foi outro. Aliás, foram outros…

Por que não gostei de “O peregrino”?

Nem é preciso dizer que esse livro tem muitas referências ao cristianismo, né? E o que me chamou a atenção é que essas referências são muito, muito explícitas.

Não me leve a mal. Sou cristã e tenho o costume de ler a bíblia. Por isso, a sensação que eu tive foi de ler um resumo (bem resumido) do que está escrito no livro sagrado. 

A questão é que, para mim, se for para ler um texto neste estilo “resumo bíblico”, prefiro ler a bíblia mesmo. Entendo o apelo que esse tipo de texto tem para o público em geral, mas, particularmente, não vejo motivos para ler um livro que resume o que está de forma tão direta.

Para falar a verdade, acho que o que realmente me decepcionou foi que eu tinha uma expectativa bem diferente em relação a essa leitura. 

Imaginava que “O peregrino” tinha um enredo no estilo “Crônicas de Nárnia”, obra incrível de C.S. Lewis que também tem muitas referências cristãs, mas que, ao meu ver, é muito mais mais interessante.

Porém, como falei, o livro John Bunyan é mais literal e direto, estilo que eu não esperava e que eu não gosto.

Leia também: Por que não gostei do livro “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo?

Outros problemas…

Foto/reprodução: @projeto.overflow

Também é importante ressaltar que “O Peregrino” conta uma história baseada no entendimento, na interpretação, que o próprio autor tem da bíblia, entendimento esse do qual eu discordo em alguns pontos. Em um trecho do texto, por exemplo, o autor diz:

O Senhor do país para o qual estamos indo disse, “não matarás”: não matarás outro homem, quanto mais matar-nos a nós mesmo. Estamos proibidos disso. Além do mais, aquele que mata o outro pode, no máximo, matar seu corpo. Mas tirar a própria vida é matar o corpo e a alma de uma só vez.

Citação do livro “O peregrino”

Discordo dessa afirmação porque julga e condena pessoas que já tentaram ou concluíram o suicídio, ação que claramente está ligada à uma doença.

Longe de mim ser um exemplo de cristã (não sou mesmo), mas na minha jornada como cristã, encontrei um Deus que entende a dor, que cura as doenças, que é pai, que faz milagres e que compreende sim o que uma pessoa nesse estado mental é capaz de fazer consigo mesma.

Falo isso porque o texto bíblico, em MUITAS SITUAÇÕES, é procurado por pessoas que estão sofrendo com problemas muitas vezes graves. E se uma delas lê esse livro e se depara com esse trecho aqui? Você acha mesmo que isso vai ajudá-la em alguma coisa?

Apesar disso, entendo que esse trecho também representa um pensamento da época na qual o autor viveu. Ele foi publicado em 1678, gente! Naquela época, a percepção sobre problemas mentais era bem diferente de hoje em dia.

E mesmo assim, vários cristãos insistem em negligenciar ou reduzir a importância do tema. Ainda bem que Deus não é assim…

Além disso, também entendo que esse trecho isoladamente, não justifica a condenação desse livro, que tem muitas mensagens valiosas. Vou até fazer outro artigo sobre isso.

A questão é que, para mim, esse livro não deveria ser lido por qualquer pessoa que está começando a conhecer Cristo. Nesse caso, prefiro Cristianismo Puro e Simples, do C.S. Lewis.

Por fim, não sei se foi um problema da minha edição, mas não gostei do fato da história não ser dividida em capítulos. O texto corrido, sem pausas, para mim, tornava a leitura de algumas passagens ainda mais lentas. Por isso, nesses momentos, achei a leitura cansativa.

Sugiro a leitura desse livro, mas com ressalvas

Por todos os motivos citados anteriormente, minha recomendação é a seguinte: 

  1. Antes de ler esse livro, leia a Bíblia. Sinto muito dizer isso, mas se você é cristão, tem obrigação de ler o livro sagrado da sua religião;
  2. Esse livro não substitui o texto bíblico. Não comece a ler por esse livro. Isso pode te passar a impressão errada;
  3. Se você não é cristão, não recomendo começar a investir em literatura cristã por aqui. Como falei anteriormente, prefiro que comece por Cristianismo Puro e Simples, do C.S. Lewis;
  4. Por fim, um lembrete importante: esse é um livro para ser lido aos poucos. Não é uma história muito envolvente, mas que serve para a reflexão.

Agora, fica o questionamento: Você já leu esse livro? O que achou?

Curiosa, apaixonada por livros e completamente consciente de que ainda tem muito a aprender. Aqui, compartilho um pouco desse universo!
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