Minhas frases preferidas de “Escritos da Casa Morta”, de Fiódor Dostoiévski

Também conhecido como Recordações da Casa dos Mortos ou Memórias da casa dos Mortos, Escritos da Casa Morta é um livro repleto de referências autobiográficas do escritor russo Fiódor Dostoiévski.

O novo título foi cunhado pelo tradutor Paulo Bezerra, responsável pela nova tradução do texto original publicada pela Editora 34 (foi essa a edição que eu li). No livro, ele explica o motivo que o levou a mudar o título, mas isso é assunto para outro artigo.

Vamos focar na história de Escritos da Casa Morta. Você sabe do que trata esse livro?

Vamos a um pequenino resumo…

Por que esse livro é importante?

Acusado de integrar do grupo intelectual radical chamado de Círculo Petrashevsky, Fiódor Dostoiévski foi sentenciado à morte em 1849. Felizmente, como que por um milagre, o Czar Nicolau I mudou de ideia.

Por isso, momentos antes de sua execução, o autor teve sua pena convertida em deportação e prestação de serviços em regime de trabalhos forçados. Em outras palavras, ele foi preso e obrigado a trabalhar de graça para o Czar.

Para isso, o autor foi enviado à Sibéria, onde passou um período na prisão em Tobolsk e depois foi transferido para a prisão de Omsk, cumprindo sua sentença durante 4 anos.

A experiência, as pessoas que conheceu e as cenas que testemunhou nesse período foram tão marcantes que influenciaram todas as obras do escritor publicadas depois desse período. E isso fica visível quando se lê “Escritos da Casa Morta”, que tem um claro teor autobiográfico.

Dostoiévski não cita claramente que a história contada no livro é sobre suas próprias experiências, mas através do personagem Aleksandr Pietróvitch Goriántchikov, um ex-prisioneiro da Sibéria, ele conta o que viveu, aprendeu e testemunhou na prisão.

Se você já leu outros livros do autor, como o famoso Crime e Castigo, por exemplo, vai perceber que alguns personagens retratados na obra lembram os prisioneiros descritos em “Escritos da Casa Morta”.

Por isso, se você é fã ou admirador da obra do escritor, então essa é uma leitura indispensável para entender a vida, as inspirações e a influência da vivência da prisão na obra do escritor russo.

E para te incentivar a ler esse livro, resolvi compartilhar minhas 16 frases e citações preferidas dessa obra. Isso já vai te ajudar a entender a importância desse texto.

Veja abaixo:

Frases marcantes do livro Escritos da Casa Morta, que conta a experiência de Dostoiévski durante sua prisão na Sibéria.
Dostoiévski (à esquerda) na prisão siberiana de Omsk em 1853. Foto: Literatura Russa.

16 frases marcantes do livro “Escritos da casa morta”

“Não se pode transformar um homem vivo num cadáver: ele segue tenho sentimentos, sede de vida e de vingança, paixões e a necessidade de satisfazê-las.”

“Todo tratamento desdenhoso, toda hostilidade irrita os de condição inferior.”

“Qualquer um, seja quem for e por mais humilhado que se sinta, mesmo que instintivamente, mesmo que inconscientemente, ainda assim exige respeito à sua dignidade humana. “

“O próprio detento sabe que é um detento, um réprobo, e conhece o seu lugar perante um superior; mas nenhuma marca de açoite, nenhum grilhão o faz esquecer que é um homem. E como é efetivamente um homem, logo, é preciso que receba um tratamento humano.”

Um tratamento humano pode humanizar até mesmo aquele em quem há muito tempo se apagou a imagem divina. É a esses ‘infelizes’ que cabe dispensar o tratamento mais humano. Isso é a sua salvação e a sua alegria.”

“Encontrei comandantes assim bondosos e nobres de espírito. Vi o efeito que sua ação produzia nesses humilhados. Algumas palavras afáveis e os presidiários por pouco nãos ressuscitavam moralmente.”

Ninguém, de trás da murada/ entende o que aqui se vive,/ Mas temos conosco Deus-pai,/ Estamos salvos mesmo aqui.”

“Lembro-me de que logo logo passei, repentinamente e com impaciência, a me dedicar a todos os detalhes daqueles novos fenômenos, a ouvir as conversas e os relatos de outros presidiários, eu mesmo lhes fazia perguntas, obtinha as respostas. Desejava, entre outras coisas, conhecer forçosamente todos os graus das sentenças e das execuções, todos os matizes dessas execuções, a visão dos próprios presidiários sobre tudo isso; procurava imaginar o estado psicológico dos que caminhavam para suplício. Eu já disse que perante o castigo é raro alguém permanecer calmo, incluindo aqueles que antes já haviam sido espancados várias vezes.”

“Algumas pessoas são como tigres, sequiosas por lamber sangue. Quem uma vez experimentou esse poder, esse domínio ilimitado sobre o corpo, o sangue e o espírito de um semelhante, de uma pessoa criada da mesma maneira, um irmão pela lei de Cristo; aquele que experimentou o poder e a plena possibilidade de humilhar com a mais alta humilhação outro ser que traz em si a imagem de Deus, este, involuntariamente já deixou de ser senhor dos seus prazeres.”

“A tirania é um hábito; tem seu próprio desenvolvimento e, enfim, se converte em doença. Acredito que o melhor dos homens pode abrutalhar-se e embotar-se por hábito, até chegar ao nível de um animal. O sangue e o poder embriagam: desenvolvem-se a grosseria, a perversão, os fenômenos mais anormais se tornam acessíveis e, por fim, doces ao intelecto e ao sentimento. O homem e o cidadão morrem para sempre no tirano, e apara ele se torna quase impossível retornar à dignidade humana, ao arrependimento, ao renascimento.”

“O direito de aplicar o castigo físico, direito que é concedido a um indivíduo em detrimento dos outros, é uma das chagas da sociedade, um dos meios mais poderosos para a destruição de qualquer embrião, qualquer tentativa de civismo que ela venha a ter, é a razão completa de sua desintegração fatal e inelutável.”

“Nenhum homem vivo subsiste sem um objetivo e a aspiração de atingi-lo. Depois de perder o objetivo e a esperança, o desgosto com frequência faz o homem transformar-se num monstro…”

“A realidade é infinitamente mais diversa se comparada a qualquer conclusão – mesmo as mais sutis – a que pode chegar o pensamento abstrato, e não suporta discriminações grosseiras e vultuosas. A realidade tende à fragmentação.”

“Recordo que durante todo aquele tempo, apesar da presença de centenas de companheiros, eu vivia uma terrível solidão, e acabei gostando dessa solidão. Espiritualmente só, eu revia toda a minha vida pregressa, examinava tudo até os ínfimos detalhes, refletia sobre o meu passado, julgava a mim mesmo de forma implacável e severa e vez por outra até abençoava o destino por me haver concedido aquela solidão, sem a qual não teria feito esse autojulgamento da minha vida pregressa.”

“Eu pensava, eu resolvia, eu jurava a mim mesmo que em minha vida futura não haveria mais os mesmos erros, nem as quedas de outrora. Eu delineava um programa para todo o meu futuro e estava decidido a segui-lo com firmeza. Em mim renascia a fé cega de que eu cumpriria com tudo aquilo, de que era capaz de cumprir… E esperava, clamava por liberdade, que viesse o mais rápido possível; queria pôr-me à prova mais uma vez, numa nova luta.”

“E quanta mocidade fora enterrada inutilmente naquelas muralhas, quantas forças poderosas ali pereceram em vão! Vamos, é preciso dizer tudo: vamos aquela era uma gente extraordinária. Pois é possível que aquela fosse até mesmo a gente mais talentosa, a gente mais forte de todo o nosso povo. E aquelas forças poderosas pereceram em vão, pereceram de forma anormal, ilícita, irrecuperável. E de quem é a culpa?”

Curiosa, apaixonada por livros e completamente consciente de que ainda tem muito a aprender. Aqui, compartilho um pouco desse universo!
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2 comentários em “Minhas frases preferidas de “Escritos da Casa Morta”, de Fiódor Dostoiévski

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