Esse foi o livro mais estranho que já li de Dostoiévski (e olha que sou fã do trabalho dele!). “O duplo” foi o segundo livro escrito pelo escritor russo.
Ele foi publicado pela primeira vez em janeiro de 1846 e não foi bem aceito nem pelo público, nem pela crítica da época. Depois do sucesso da obra “Gente Pobre”, que foi o primeiro livro do autor, o texto da sua nova obra parece ter deixado os leitores confusos.
(Depois de ler esse livro, entendi porque as pessoas estranharam tanto essa leitura…)
Essa “estranheza” ocorre porque esse livro tem uma trama muito marcada por conflitos psicológicos. Por causa disso, demorei um pouco para conseguir entender o que estava acontecendo e tentar encontrar paralelos entre ficção e realidade.
Mas do que se trata essa história, afinal?
Um breve resumo de “O duplo”
Basicamente, o livro conta a história de Golyádkin, um simples conselheiro titular na máquina burocrática russa. Ou seja, ele não tinha um cargo lá muito importante.
O problema é que aparentemente ele está enlouquecendo.
Mas por que temos essa sensação de que tudo que é narrado é fruto da imaginação?
Acontece que, em dado momento da história, Golyádkin encontra acidentalmente um homem exatamente igual a ele, com as mesmas roupas, a mesma aparência, histórias parecidas e até o mesmo nome.
Esse homem, chamado de segundo Golyádkin, é na verdade o seu duplo. Curiosamente, apesar de tantas semelhanças, o comportamento dos dois é muito diferente.
Do ponto de vista psicológico, o segundo Golyádkin é o completo oposto do Golyádkin. Enquanto o primeiro é tímido e tem muitas dificuldades sociais, o segundo é mais simpático e consegue socializar e fazer amizades com muito mais facilidade, por exemplo.
Na verdade, esse segundo Golyádkin é basicamente tudo o que o Golyádkin original gostaria de ser.
E é claro que isso gera muita confusão.
Você acompanha a deterioração da saúde mental do primeiro Golyádkin, afetado pelos problemas causados pelo seu duplo e por seus próprios problemas psicológicos.
Mas dai vem a questão:
Será que essa história de duplo acontece somente na mente do personagem ou ela aconteceu mesmo?
Na verdade, o autor deixa aquela dúvida no ar. Portanto, não sabemos a resposta.
Talvez o objetivo de Dostô, (meu) apelido carinhoso do autor rsrs, fosse esse mesmo: deixar o leitor tão confuso quanto Golyádkin.
Desde o início da história, o protagonista já se mostra um personagem cheio de contradições, já apresenta problemas psicológicos e ainda tem mania de ver “inimigos” em todo o lugar – e que ninguém sabe quem é.
E o que eu achei desse livro?
Para mim, a leitura foi bem confusa. Não foi um livro fácil de ler. A história é perturbadora e tive a sensação que estava enlouquecendo junto com Golyádkin.
Mas como comentei antes, talvez a intenção tenha sido essa mesma.
Por isso, recomendo a leitura apenas para quem quer entender melhor a obra do autor.
E fica o aviso: esteja preparado para uma trama confusa e que vai te fazer questionar se você realmente está entendendo o que está lendo.
Curiosidade!
Na época da publicação, o Dostoiévski tentou revisar “O duplo”. Porém, como ele havia sido enviado para a prisão na Sibéria, o texto original só foi alterado em 1866, depois que o escritor russo concluiu a escrita do clássico “Crime e Castigo”.
Durante essa revisão, Dostoiévski manteve os principais elementos da trama original e adicionou outras ideias, que refletiam uma imaginação mais madura do autor.
Materiais complementares!
Resolvi compartilhar os links de alguns vídeos e artigos bem interessantes com a análise dessa obra. Vale a pena conferir: